“Quem te vê passar assim por mim, não sabe o que é sofrer”: vejo meu ônibus chegando no ponto em que vou descer, na frente do ônibus em que estou. Eu e uma moça pedimos pro motorista abrir a porta, pra tentar alcançá-lo. Eu carrego o Panetone que ganhei da firma.
A porta abre, saio correndo – em vão, porque assim que desço, vejo meu ônibus fechando as portas e seguindo viagem. Corro e a embalagem do Panetone abre embaixo, fazendo ele cair na rua. Perco o ônibus e o Panetone – que, numa cena dramática, é atropelado pelo ônibus em que eu estava.
Fiquei mal de tão simbólica que foi a situação. Na hora da empolgação, você acha que pode tudo, mas no fim fica com um belo de um nada. Tão eu. A sorte foi que não era o último ônibus, bastava esperar o próximo. Mas o Panetone, coitado… Foi literalmente destruído. Mas é normal, algumas derrotas são reversíveis, outras não. Ainda bem que eu nem gosto de Panetone.
Pouco depois, veio uma menininha me pedir o Panetone, ao ver a embalagem do meu lado. Só consegui levantar a embalagem, mostrar o fundo aberto e dizer “Caiu”. Ela se afastou – por essa ela não esperava, imagino. Saiu com dó de mim.
Mas aí que tá: se eu estivesse com o Panetone, ia me sentir culpada de não dá-lo pra ela. Talvez essa situação toda só quis me libertar de um dilema moral em pleno ponto de ônibus. Nem sei se valeria a pena inventar uma desculpa ou discutir com a menina, porque eu realmente não gosto de Panetone. Só queria trazê-lo pra casa.
Era tipo minha missão, e eu falhei. Me senti uma fracassada. Especialmente depois da cara de decepção da menina. No fim das contas, era só uma questão de orgulho mesmo, o Panetone em si não significava muita coisa. Quando chegou o próximo ônibus, já tinha aceitado. Agora, se fosse Chocotone…